Wednesday, March 7, 2007

A abstenção e a perspectiva económica.

Como explicar o crescimento da abstenção? Que factores estão por detrás da pouca afluência às urnas? O que motiva o eleitor?

São estas as questões a que muitos se têm proposto responder. Entre as diversas abordagens, lá está, cada vez mais frequentemente, a económica.

Como na maioria das questões de escolha, dois campos essenciais estão em jogo: o da vontade e o normativo/moral. Ainda que saiba que o deva fazer (campo normativo) posso decidir não votar pois não estou para isso(campo da vontade). Quando o objecto de escolha involve estas duas dimensões, o intrumental económico pouco tem a dizer, já que restringe a sua análise ao campo da vontade. Resta assim ao economista apresentar algumas curiosidades, até porventura politicamente relevantes. Contudo, quando discutimos a abstenção, não são os custos de oportunidade de votar o que está realmente em causa, mas o gradual afastamento do cidadão comum do sistema político que o representa, a crescente individualização da sociedade, a perda do sentido colectivo. O debate essencial trava-se no campo moral/normativo. Tornar o voto mais fácil (como certamente receitará qualquer economista) reduzirá a abstenção mas não resolve o seu problema.

Entre os economistas cresce uma desmesurada arrogância, uma espécia de crença irracional que nos leva a pensar capazes de resolver tudo, de falar sobre tudo. Temos contudo de perceber qual o nosso papel na vida social. Temos sobretudo de perceber que ao falar para a sociedade sob uma alçada supostamente “neutra”, positiva, que tenta esvaziar o debate do campo normativo, contribuímos de facto para uma alteração do quadro moral, promovendo um mundo regido pelo calculismo.

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