Thursday, June 19, 2008

O Amor como paradoxo

Ainda que o amor seja quase sempre entendido em oposição ao egoísmo, é hoje em dia cada vez mais comum a visão do relacionamento baseado na pura satisfação pessoal. Rejeito a última, assumo a primeira. Dito isto coloca-se o problema sobre a possibilidade de existênca de um verdadeiro amor altruísta, isto é, de um amor que procure exclusivamente a felicidade do ser amado.

De facto, procurar a felicidade de quem se ama, sem que esta resulte na felicidade de quem livremente oferece o seu amor, redunda em penitência absurda, que fechada sobre si mesma não constitui verdadeira abertura ao outro, mas apenas em anulação de si próprio. Daqui resulta que necessariamente também do amor altruísta nasça a felicidade de quem ama, e nisto constitui-se o paradoxo.

Assim, amar desinteressadamente passará pela procura da total identificação de si mesmo com o outro, para encontrar na felicidade de quem se ama, a sua própria. O mesmo bem passa então a ser partilhado pelos que amam, num só espírito. O eu e o tu dá lugar ao nós, que não divide o mesmo amor mas antes partilha-o. Esta terceira entidade espiritual, o nós, consiste então em verdadeira unidade, não realizada pela anulação de cada um dos amantes numa nova, mas sendo antes fundada numa unidade que é relação.

Quem ama não deverá então procurar na felicidade do outro, através do amor que se oferece, consequências que resultem na sua própria felicidade. É antes no próprio amor que consite a felicidade.

Wednesday, June 11, 2008

Petrificação

Quem me dera poder, a cada minuto, comover-me com o sofrimento dos outros. Chorar com quem chora, partilhar a alegria de quem sorri. Difícil não é ser sensível, é não deixar-se embrutecer. A luta diária consiste na luta pela sensibilidade, pela abertura do coração à verdade.