Friday, May 4, 2007

Ser jovem é ser da Quercus. Ser (mais)velho é ambicionar o purgatório

Para quem é da minha geração, esquerda e moda são palavras que se confundem, tal como igreja e mofo ou direita e betos. Assim sendo, a escolha racional de qualquer miúdo de 16 anos que quisesse aparentar ser um gajo fixe, consistia em colar uns autocolantes do Che na mochila. Aos 16 anos foi o que fiz.

Porém, caso ainda andasse de mochila (e ando, mas é daquelas que serve para levar o computador), não seria o Che que estaria lá colado mas, quem sabe, o Al-Gore. Bem, pensando melhor, não o Al Gore, isso seria maricas... mas talvez o título do seu documentário, rabiscado a caneta de tinta permanente, ou ainda melhor, o o logotipo da Quercus.

A questão da existência de limites do crescimento não é nova, é antes bastante velha. Já por diversas vezes estivémos condenados à extinção e, uma vez atrás da outra, lá o Homem foi capaz de ir fugindo ao seu triste destino. Para um economista, a resposta a estas crises sucessivas foram dadas pelo mercado e pela capacidade de adaptação dos hábitos sociais. Assim sendo, economicamente falando, porque razão deveríamos estar preocupados com este novo documentário? A resposta em duas linhas é mais ou menos esta: os problemas associados ao aquecimento global devem-se essencialmente a falhas de mercado, agravadas pela sua natureza transnacional.

É este último elemento que levaria o jovem Renato Rosa a escrever o nome do DVD na sua mochila. Porquê? Porque este carácter transnacional do problema tem suscitado uma nova utopia de unidade/solidariedade mundial entre povos, alegadamente essencial para este combate. Nas correntes mais extremistas há mesmo quem já proponha a criação de governos mundiais, que sejam efectivamente capazes de lidar com o problema e evitar assim a extinção da nossa espécie.

Com luta contra imperialismo capitalista e união final entre povos no mesmo pacote não há jovem que resista.

O único problema recorda-nos porém, a história, quando olhamos para trás para verificar que a cada sonho de paraíso na terra seguiu-se o inferno. Parecendo que não, o melhor mesmo é ficar pelo purgatório...

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