Thursday, May 24, 2007

Ainda a Tourada

Quem está contra a tourada apresenta, habitualmente, dois tipos de argumentos. O primeiro trata-se de um cert0 sentimento de compaixão pelo animal, o segundo consiste no desagrado pela celebração de uma festa realizada sobre a tortura que é imposta ao toiro.

Concentremo-nos então sobre o primeiro. Imagine que está mesmo muito preocupado com o bem-estar do animal, que não suporta que este seja torturado e que por isso mesmo a tourada deveria ser proibida. Não tem porém nada contra a morte do toiro, caso à sua carne fosse dado o mesmo destino que a de tantos outros animais. Muito bem. Imagine agora que as farpas desapareciam da tourada para dar lugar apenas à execução pública do animal, numa arena. Nesse caso, já não estaria contra a tourada? Muito provavelmente continuaria a opôr-se. Porquê? Porque não é o sofrimento do animal que verdadeiramente o interessa, é uma outra coisa. Se é contra a tourada e julga que o é porque gosta muito dos touros, está enganado. Não é por isso que deseja que as touradas sejam proibidas.

Passemos então ao segundo tipo de argumento. Aqui não é tanto o tratamento ao qual o animal é submetido aquilo que o choca, mas sim a finalidade para o qual este se destina. Inquieta-o sofrimento do animal, todo o espetáculo das farpas e do sangue mas, mais uma vez, não é essa a razão da sua indignação. Não é certamente contra a utilização de um primata numa experiência científica que permita descobrir a cura para uma doença como a SIDA, muito embora o tratamento ao qual o macaco é submetido seja de uma enorme violência. Ora, o problema todo reside apenas no facto de achar que seres humanos não devem gozar de um sofrimento que é imposto ao toiro. Não é o animal o centro da questão, mas a atitude humana perante esse mesmo animal.

Afirmar porém, que quem gosta de tourada, gosta do espectáculo porque existe um toiro que é torturado, só pode ser dito por alguém que, afinal, não a compreende. A praça de toiros não é povoada por uma mão cheia de homens e mulheres com olhos vermelhos e caudas pontiagudas, que rejubilam com cada gota de sangue vertida sobre a arena. A tourada é antes a celebração de um modo de vida, note que não estou a negar o sofrimento do animal, mas apenas a relembrá-lo que não é essa a razão pela qual as pessoas assistem a uma tourada. Se está muito preocupado porque vive numa sociedade onde pessoas vibram com o sangue vertido dos animais, fique descansado, não vive; não é numa praça de toiros que as vai encontrar.

1 comment:

M said...

Não se brinca com a comida.