Enquanto miúdo costumava ir até à Biblioteca Municipal de Palmela requisitar os livros de aventuras do jovem Indiana Jones e as histórias adaptadas de Sherlock Holmes. A biblioteca era então constituída por dois pisos, o primeiro destinado a jovens e o segundo apenas acessível a adultos. Recordo-me do mistério que aquelas escadas então despertavam, da curiosidade e respeito que sentia pelos superiores conhecimentos que se guardavam lá em cima. Certo dia pude, finalmente, subir. Entrei silenciosamente na sagrada sala, os livros pareciam fitar-me como se estranhassem este novo visitante. Sentia-me um intruso, mas sentia também que com o esforço devido poderia vir ganhar a confiança destes guardiães do conhecimento.

Hoje a biblioteca possui apenas um piso, os livros desceram do seu altar e partilham a sala com computadores onde é possível aceder-se à Internet. Entre correrias e gritos entram os mesmos miúdos de doze, treze anos. Não reparam nos livros, sentam-se em frente aos computadores e dão-lhes as costas, conversam com os seus vizinhos através do messenger e actualizam os seus profiles no hi5.