Wednesday, February 18, 2009

Tenho 28 anos, faço parte de uma geração que não conheceu guerras nem ditaduras. Não sei o que é passar fome, não presenciei a morte de um amigo.
Somos acusados de viver uma vida burguesa, o que é verdade. Não minto, porém, se também disser que nunca tivémos a oportunidade de integrar causas maiores, que não pudémos lutar pela liberdade, que não sofremos injustiças. Não nos foi dado a bater um qualquer Golias que fosse, para poder aí encontrar algum sentido.
Agravando uma situação já por si problemática, as gerações anteriores fizeram-nos o malogrado favor de destruir o que restava de sagrado. Deixaram-nos a ciência, alimentaram o seu voraz apetite que tudo reduz ao frio mecanismo científico. E se hoje, num deseperado gesto, alguém ainda tenta recuperar o mistério, encontra substituído em seu lugar uma pegajosa água açucarada, apenas capaz de satisfazer as almas menos despertas.
Ficámos defronte a um imenso vazio que não permite distracções. Ficámos sozinhos.

Confrontados com semelhante horror corremos todos para os centros comerciais e decidimos apostar na carreira. Não teria feito o mesmo, camarada?

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