Saturday, July 28, 2007

O mandão bonzinho ou o lobos e as peles de cordeiro


Os indicadores — agora disponíveis no site do Alto-Comissariado da Saúde — colocam-nos cada vez mais longe das metas traçadas no Plano Nacional de Saúde para 2010. "Contra factos não há argumentos. Estes dados comprovam que a epidemia [da obesidade] está em curso acelerado", admite João Breda, o responsável pela Plataforma Contra a Obesidade lançada no final de Maio passado.


Quando se pretende informar acerca dos malefícios da obesidade, tudo parece muito bem, acertado. Porém, quando a atitude deixa de ser a de querer informar para passar à da tentativa de indução a uma decisão desejada por alguns seres iluminados, aí, começam os problemas. Por detrás da distribuição de panfletos, e demais actividades de propaganda, não está a vontade de promover uma escolha consciente, mas a ideia de que “o senhor não devia comer tanto, não devia ser gordo! Eu sei! É mau para si, faça como eu digo!”. Quando Maria de Belém diz que as pessoas não devem fumar, ou não sabe o que diz, ou é de facto um lobo mau em pele de cordeiro, um mandão bonzinho.

Tudo isto é muito interessante, ultrajante até, mas não é novo. Que existe um ditadorzeco em cada um de nós, não é novidade. Porquê então perder tempo com isto? Porque a maior parte do meu círculo de amigos aprova este tipo de medidas. Porque ao mesmo tempo que, em nome da imparcialidade do estado, é negada a obrigatoriedade da ecografia na consulta que precede o aborto, o mesmo estado propõe-se a ajudar a sua população numa escolha de carácter puramente individual, a do prato que cada um decide ter em sua mesa, em sua casa. A pergunta interessante é então esta: o que leva a que esta ditadura da saúde seja socialmente aceite e até mesmo promovida pelos que a sofrem?
A resposta é bastante simples e está nos iogurtes light, nos “esquadrões da saladas”, nos ginásios. Nesta absoluta necessidade de beleza, que se torna imperativo moral: as pessoas devem ser bonitas e saudáveis, caso contrário serão infelizes, serão pessoas menos realizadas; precisam portanto de ajuda, à qual estamos moralmente impelidos, legitimados. O problema reside assim nesta incapacidade de aceitar que eu posso escolher carregar a bela e controversa barriga, e que não há nada de errado nisso. Que o desejo de outrém para que eu seja magro, mais bonito e viva mais, é algo que verdadeiramente não me interessa nada. Que enquanto como a minha feijoada à transmontana estou de facto mais realizado que o tipo ao lado, que almoça a sua barrinha de cereais.

2 comments:

h ventura said...

Não é uma questão de beleza, meu caro, é uma questão de boa saúde. de qualidade de vida. devemos ou não zelar para que o nosso semelhante tenha uma vida equilibrada, podendo obviamente saborear todo e qualquer bife mas também ser capaz de correr atráz de um autocarro, ou outra coisa qualquer... (" ó evaristo, tens cá disto?...) incontornável moralidade.

h ventura said...

Não é uma questão de beleza, meu caro, é uma questão de boa saúde. de qualidade de vida. devemos ou não zelar para que o nosso semelhante tenha uma vida equilibrada, podendo obviamente saborear todo e qualquer bife mas também ser capaz de correr atráz de um autocarro, ou outra coisa qualquer... (" ó evaristo, tens cá disto?...) incontornável moralidade.