Sunday, June 10, 2007

O Cristão Tentado

Todo o cristão, em alguma altura da sua vida, sente insuportável o cansaço do peso que carrega; é invadido por uma irresistível tentação de desistir de tudo, de voltar ao estado inicial, de acreditar que tudo não passa mesmo de uma enorme invenção. Acreditar que o que conta de facto são as pequenas coisas. Como faz o seu vizinho, que todos os dias dorme descansado e acorda para a sua rotina diária, convencido de que esta faz mesmo algum sentido, iludido de que tudo está bem consigo. Em algum momento da sua curta vida, o apelo da ilusão consciente deverá tornar-se demasiado tentador.

Então, paradoxalmente, o ‘tentado’ sentir-se-á abençoado se viver na cidade. Onde, se por um lado esta ilusão é mais forte, por outro, é demasiado evidente: no egoísmo que carregam os seus habitantes, nos pequenos cultos do ego que praticam, na sua arrogância, na artificialidade dos gestos, no culto dos pequenos deuses finitos que acreditam ser.

Mas o confronto com as gentes do campo, que vivem ainda a terra que pisam, que pela sua autenticidade parecem viver num estado de real proximidade com a paz, com o sentido das coisas, torna tudo mais complicado. É aqui que a força da fé é mais fortemente abalada, é aqui que a renovação da consciência cristã de que existe mesmo algo de errado com o Homem encontra o seu adversário mais temível. Deste confronto parecerá que nada melhor existe do que aspirar ao estado de paz dessas gentes, aspirar por esta simplicidade, por esta aceitação tranquila da ordem natural das coisas.

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